As pedras das ruas de Minas
(março 2020)
Naqueles caminhos andavas sorrindo
Vestido florido cabelos em tranças esvoaçadas
Sorrisos andantes
Passos dançantes
Mãos serpenteando gestos leves
De belos braços esguios
Linda dançarina das ruas de pedras de Minas
A nos encantar
Passando com seu rosto solar
Não havia quem contigo não sonhasse
Devaneios doces de vida e de flores
Flores saindo do vestido lançado ao longe
Noites e tardes de flores pelos cabelos
Corpos pela relva
Beijos pela brisa
Linda menina que trazia o luar
Para perto das ruas de Minas
Que o som das violas fazia bailar
Qual artista em seu palco a (nos) dominar
Bêbados pela beleza e por tantos líquidos impróprios
Crianças nos pegávamos a sonhar contigo
Com amores impossíveis
Encantos inenarráveis
prazeres gozados em pensamentos impuros
Mas que contigo justos eram,
pela beleza natural e santa
Dos seus passos pelas ruas de pedras de Minas.
A cidade e o Vento
(2017)
Não me olhe indo por aí
A cidade fria me acolhe
Não me escute falando sozinho
Palavras que o vento repercute
Meu rumo trouxe o frio
E o vento bateu de repente
O frio arde e o vento corta
Mas a cidade acolhe e sente
Vivemos o que foi nosso
Mas agora são outros caminhos
Andamos juntos muito tempo
Mas hoje seguiremos sozinhos
O vento silencia ao me ouvir
Você longe, mas tão aqui!
Não,
não me veja andando por aí
miserável a cada passo
Não,
não me escute falando sozinho
Triste pelo caminho
As palavras acolhem, mas não confortam
A cidade consola, mas não aquece
O vento corta, o frio arde.
Você longe, mas tão aqui!
A morte da Alma
(2018)
Quanto mais procuro menos me acho.
Busco essência encontro impressões
Distorcidas por dores de ferimentos intensos
Arrastando velhas sensações
O fracasso despertando fragilidades
Vulnerável que sou ao que não faço
Alvo fácil de fantasmas, culpas e pesares
Cicatrizes sangrando mesmo fechadas
Incapaz de ser leve frente ao peso de decisões
Que se impõem, indesejadas ou temidas
Ouso manter a respiração
Mesmo difícil, rarefeita, sofrida
Expectativas sombrias desafiam esperanças
Abalroadas, natimortas, pelo descaso opressor
Do fracasso imensurável não da empreitada, profissão ou riqueza
Antes, fracasso da alma, que improdutiva se incompleta
Fraqueja, manca, lamenta
A vida... que vida! Aleijada pela iminente morte da alma.
Alma, que sôfrega, luta ainda, mas não anima a nada.
Quando ela vier
(2017)
Dias cinzas mais traiçoeiros que noites escuras.
A noite é para os corações solitários
Como o eco monótono do pulsar de veias quase inertes
Pelo sangue que insiste em correr sem destino.
Pelas noites pulsam as lembranças do que fomos.
Nos dias só a ausência vinga,
Trazendo a dor que ficou pelo que poderia ter sido.
O cinza é a morte à espera: está ali, mas ainda não
Ah, se viesse ainda traria algum sentido!
Mas, vigilante e sorrateira espreita
Buscando a última centelha de felicidade possível
Quando então virá certeira e irremediável,
Sem sentido,
Como só ela pode ser.
Amor não se divide
(2019)
A saudade vai ficar
Fui porque nos perdemos
Tempos atrás
Quando esquecemos
O que éramos ao começar
Tudo muda enquanto o tempo passa
O amor suspira, fraqueja, sufoca
A distância na proximidade congela
O que se sente
Ou sentiria
Se o amor vingasse
Mas não. O amor ao relento sofre e se vai
Não importa o motivo,
Podem ser sonhos comuns, metas ou filhos
Qualquer coisa colocada diante do amor o relega
A segundo plano
E amor não se relega, amor não se encosta,
amor não se posterga
Amor é, vive, sente, respira
Amor goza e gozo não se adia
Amor adiado é amor perdido
Amor não se sente só
Pois só não é o que deveria ser
Amor só pode ser a dois
Cúmplice
Parceiro
Por inteiro.
A indiferença ou o fim do amor
(música incidental “Você”, Roberto Carlos, por Maria Bethânia)
É a indiferença que mata o amor
ou o fim do amor que a provoca?
Importa mesmo saber?
Aquele que recebe a indiferença morre lentamente
e o indiferente já não traz vida no coração.
Se este hoje ainda bate, não é mais por aquele,
mesmo que, ainda, não seja por outro.
A indiferença nasce do coração inerte,
que mesmo que pulse, flui apenas frio pelas veias.
Olhos que já não brilham, nas raras vezes em que
cruzam o olhar daquele a quem amou.
Fugidios, covardes e envergonhados olhos
que não conseguem assumir a finitude,
não ousam encarar o amor que ainda sobrevive,
condenado, no coração do outro.
Como é cruel o fim do amor! Nunca morre junto!
Antes, escolhe um dos corações para esfriar e é este frio
que murchará o amor no outro, dolorosamente morto por inanição,
pela crua indiferença, que mata primeiro a dignidade para depois sufocá-lo.
Um sofrimento sem fim, nutrido por lágrimas,
desesperado por já não se sentir vivo,
pois vivia no outro, pulsando através do coração que não era o seu.
Seu sangue já não corre, rasteja.
Veias que foram rios de calor e paixão
Afluem hoje apenas dor, enrijecidas e frias
num experimento da morte em vida
morte que se faz presente,
vida que já não é, e nem será.
Não houve tempo para o adeus
Não houve tempo para o adeus
Sem perceber deixamos de nos encontrar
Achava que mesmo separados estaríamos perto
Mas a vida nos levou em outras direções
O silencio do último encontro
Ressoa em minha mente ainda
Palavras não ditas
Beijos não dados
Só o silencio anunciando a separação
Hoje vejo o que poderia ter sido
Lamento o que não disse
E o que não pude fazer
Será que ouve minhas palavras agora?
Será que anseia por meu toque outra vez?
Será que ainda se recorda de mim,
Como lembro de você?
O silencio do último encontro
Ressoa ainda em meu peito
Palavras não ditas
Beijos não dados
Só o silencio anunciando o fim
Se te encontrasse, hoje eu diria
Que o nosso tempo foi o bastante
Que o que poderia ter sido nunca seria
Mas que eu nunca te esqueci
E aquele adeus, que nunca dissemos
Que aquele silêncio impediu
E o último beijo, que nunca demos
Hoje seria o nosso ato final.
Luz que finda
(out 2020)
A luz ofuscou o mundo criado
pelo encontro inesperado
que formou a historia
das vidas entrelaçadas
claudicantes e diretas,
coesas e distantes.
Luz forte na noite escura
A cegueira brilhante
que vislumbrou o cenário
sem reconhecer personagens.
Cenário que muda, pessoas que vem e vão
roteiro que não varia
enredo que não se altera
onde quer que esteja o palco.
Nó na garganta
(mar 2021)
Há dores que travam a garganta
A respiração entrecorta
O ar parece que não entra
Assim penso em você
Na ausência permanente
Dias e noites seguem enfim
A dor presente e a luz ausente
Mostram o que sou agora
Perdido em pensamentos de fuga
Pela impossibilidade dos passos alheios
Preso à situação que se impôs
Isolado, sem saída ou escolha
A vida se impõe, afirmativa na perda e na dor
Como o sol que sempre nascerá amanhã
A dor presente pela presença ausente
Trava a garganta e mantém suspenso o ar.