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Foto do escritorWilliam Andreotti Jr

Realização e Propósito


A realização profissional não é um local definido, uma posição, um cargo. Não é um “espaço” e muito menos um “tempo” determinado. É etérea, volátil, inconstante. A realização de hoje é de hoje, talvez não seja a mesma na próxima semana ou no mês que vem.


A realização profissional não é “ser”, e sim “estar”.


Posso me sentir realizado hoje com o que sou hoje. Amanhã talvez não mais. Não necessariamente vou querer e buscar amanhã o que quero e busco hoje. A realização profissional não ocorre “quando” alcanço algo, mas “enquanto” vivo e me transformo.


A vida que vale se transforma e nos transforma. Se paramos, estagnamos. Viver só vale a pena no fluxo da vida. Acredito que seja assim porque o que nos move na vida é o fluxo do amor. Nada de pieguice aqui. É o amor em suas mais diversas formas e manifestações que nos motiva, nos conecta aos outros, nos traz razão de viver e propósito para trabalhar.


Amor é fluxo, não é objeto ou alvo concreto. Amor só existe realmente como verbo, pois como substantivo é impossível de ser manuseado, guardado, embrulhado e saboreado. Só existe amor em amar e a vida que vale a pena é a que ama.


O amor na vida profissional se manifesta em seu propósito. Se você busca um trabalho alinhado a um propósito genuíno, daqueles que nos move em meio às tempestades, inevitavelmente estará vinculado a fazer o bem para as pessoas, de uma forma ou de outra. Seja qual for a sua profissão, os propósitos legítimos se fundamentam em atender pessoas em suas necessidades ou desejos, proporcionar momentos de alegria ou ajuda-las em seus momentos de dor e fraqueza. Pode ser que estes benefícios não aconteçam diretamente pelas suas mãos, caso seu trabalho seja dar suporte às mãos daqueles que agem diretamente. Em situações assim, mesmo de forma indireta, é através de você e do seu trabalho que tudo se faz possível, portanto ambos têm a mesma importância.


Ter um propósito na vida profissional é exercer o amor na profissão. Amor à humanidade, representada em um segmento de clientes, um grupo de beneficiários ou em um único indivíduo. Ah, e nem precisa ajudar diretamente a um ser humano para cuidar da humanidade: a veterinária que cuida de meus cachorros com tanto amor e zelo torna a minha vida muito mais feliz.


Como a vida fluindo traz transformação, nossos propósitos também podem mudar ao longo dos anos. E propósitos não se limitam a uma carreira, a uma profissão ou a uma empresa.



Quando eu era jovem meu pai dizia que a carreira de executivo acabava aos quarenta anos. E era mesmo assim. Pessoas de cinquenta anos nos anos 70 eram idosos. Hoje temos pessoas de setenta anos totalmente produtivas e as de cinquenta estão com energia plena. Nossa expectativa de vida é maior, nossa qualidade de vida é melhor. Temos a chance de viver uma longa carreira ou de exercer várias carreiras. Somos capazes de descobrir novos caminhos, viver outras coisas, buscar outros propósitos. Podemos nos transformar, aceitar o que a vida nos traz de aprendizados e experiências. Podemos ter a ousadia de mudar.


Hoje é comum ter várias carreiras ao mesmo tempo: executivo e professor, analista e blogueiro, designer e consultor, o que for. Podemos mudar de empresas, de empregos, de cidades. Trabalhar na sede da empresa, em casa, em coworkings ou em cafés espalhados pelo mundo.


Não devemos nos limitar a uma única visão, seja porque fomos criados assim, seja porque as necessidades rigorosas da vida nos levaram a um caminho único. Sim, é difícil pagar as contas, viver a pressão das necessidades familiares, o dinheiro curto e contado ao final do mês. Mas podemos ser mais do que pessoas que pagam contas.


Quando entramos no mercado profissional é comum ficarmos aprisionados a um caminho único. É difícil entrar numa boa empresa e quando conseguimos esta empresa oferece promessas de futuro, de evolução de carreira, maiores responsabilidades e ganhos. Quanto melhor for a empresa, maior o grau de aprisionamento que poderemos viver.


Acredito que as empresas devam ser cada vez melhores e oferecer mais e melhores coisas em troca das carreiras de seus funcionários. Mas o funcionário deve se reconhecer como indivíduo que contribui com grande parte de sua vida pelo que a empresa lhe oferece.


Cada profissional precisa se considerar senhor de seus caminhos e de sua carreira, que durante um determinado tempo estará alinhada ao que a empresa oferece. Se o indivíduo não exerce esta autonomia e segue os rumos que a empresa lhe indica sem refletir a respeito, poderá abrir mão de conduzir sua evolução profissional. E podem ter certeza de que a empresa nunca abdicará de seu poder de demitir. Se necessário, por qualquer critério ou motivo demissões acontecerão, tendo o indivíduo controle de sua própria carreira ou não.


Todo funcionário deve honrar seu emprego e ser leal a quem o contrata, mas isso não significa ignorar o que ocorre no mundo ou deixar de pensar em outras possibilidades e avaliar novas oportunidades. Também não deve renunciar a caminhos complementares aos atuais, se isto fizer sentido em sua carreira e estiver de acordo com seus propósitos.


As melhores empresas pensam desta forma sobre seus funcionários, pois os respeitam como indivíduos. Mas a maioria das empresas pode agir de forma egoísta, exigindo exclusividade e dedicação plena. Considere essa condição ao planejar a sua carreira.


Ser totalmente responsável por sua carreira não é fácil, mas não é nada impossível. Os únicos limites realmente intransponíveis são aqueles que você mesmo se impuser. Os demais, são apenas degraus da sua escada pessoal.

Ser profissional não significa ter um emprego. Trabalhar não é obrigatoriamente o que ocorre entre as 8 e as 18 horas no ambiente da empresa, em troca de um salário. Ter uma profissão é exercer o seu trabalho, com emprego ou não, com horário definido ou não. Se a sua profissão estiver alinhada a seu propósito pessoal poderá lhe trazer satisfação e realização em vários momentos de sua vida. Isso não depende de emprego, de carteira assinada ou de salário fixo. Sua carreira pode ter tudo isso, não há nada de errado, mas todos precisamos saber o que realmente nos trará a realização que buscamos.


Não devemos pensar que nossa realização profissional está vinculada a um determinado cargo ou salário, ou a uma posição de poder em uma grande empresa. Estes objetivos serão legítimos se forem coerentes para você e suas expectativas de carreira. Mas saiba que a sensação de realização está mais ligada à realização de seu propósito de vida, profissional e pessoal, do que a cargos e salários.



A realização profissional é efêmera, transitória, fugaz. Não devemos buscar “A Realização", e sim perseguir momentos onde nos sentiremos realizados. Isso é bom, pois nos direciona continuamente àquilo que devemos fazer para atingir aos nossos objetivos mais nobres, servindo e contribuindo de muitas formas ao longo de nossa vida.


A maior crise que atravessei trouxe muitas adversidades, mas também muitas coisas boas. A melhor delas foi a de renovar meus propósitos de vida profissional, conectados aos meus anseios pessoais. E isso não há dinheiro que pague.

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